segunda-feira, julho 31, 2006

De manhã

O celular tocou um tananananã irritante, e o lençol quente e macio envolvia, sedutor. Sem que eu visse, o visor celular gentilmente dizia "Acorde, por favor!", e eu, sem saber que o fazia, obedeci. Ao menos, serviu para espantar não sei qual sonho estranho em que vivia.

Entre o quarto e o banheiro vi a manhã mais fria desde algum tempo, principalmente por ser a manhã da volta ao trabalho. Por trás do vidro, uma única massa, úmida e branca. Sim, eu habito uma nuvem.

A água fria escorreu no rosto e, apesar do sono, consegui abrir os olhos. Creme no rosto, cheirinho bom logo de manhã. Café com leite, pão na sanduicheira pra esquentar mais, margarina derretendo.

Lã, lã, lã - é tudo o que quero. Meias grossas, luvas azuis. E um luxo de um cachecol multicolorido, felpudo e macio. Era constantemente acariciada.

Coragem. Rompi o sono, rompi o frio, rompi a bruma.

As luvas azuis acenavam no branco da manhã. O azul do céu de um porvir, de amanhã ou depois... Que virá.

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)