sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Fragmentos carnavalescos

Sol, sol, sol. Pessoas. Muitas pessoas. O batuque à beira da praia. A gota de sangue escorrendo na sandália branca. A alegria que vem do nada, sem motivo, sem razão - alegria. Contagiante como todo clichê. Contagiando pessoas, pessoas, pessoas que pulavam e gritavam e sorriam sem motivo algum. O sol se debruçando sobre os contornos do Rio. A velhinha se debruçando sobre a janela do quinto andar. O lilás do anoitecer se debruçando sobre as ondas repetitivas. As vozes em imperfeito uníssono. Calor, cerveja, suor. Abraços de braços fortes e masculinos. Estrelas em arquinhos e tiaras de rainha.

E o mar, indiferente. Espuma branca tomando a areia brilhante ao sol do meio-dia. Calor. Pessoas. Olhos fechados: a solidão. O esquecimento do mundo. Gota de suor escorrendo na pele que arde. Colorido de guarda-sóis chocando-se contra o anil.

E a quarta-feira esfarelando o carnaval feito confete no asfalto. Feito biscoito Globo desmanchando-se na areia. Fragmentando a multidão que parecia uma só. Feito as cinzas de recente combustão.

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)