terça-feira, agosto 08, 2006

Cenas de Julho: Os Pretos

A cidade tem a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, como todas - ou quase todas - as cidades do período colonial brasileiro. A Irmandade de Nossa Senhora dos Rosários era o lugar dos escravos católicos. Aqueles escravos que, como disse Vieira, eram como abelhas: faziam o mel, mas não aproveitavam o doce do mel. Trabalhavam nos engenhos de cana, mas não havia açúcar no amargor de suas vidas. Retiravam o ouro das encostas, dos rios, dos vales, mas suas vidas eram opacas.

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos traz ouro em seu interior - mas fica pálida numa comparação com a dos brancos. No entanto, sendo mais singela, é também mais aconchegante. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos é marca de um passado colonial e escravocrata, diria qualquer pessoa que sabe um mínimo de história.

A cidade, como qualquer outra cidade, tem uma praça. E tem escolas públicas, com crianças brancas ou negras, que dançam quadrilha numa festa julina de que os turistas acabam participando. Como em qualquer outra cidade, as mães das crianças tiram fotos. E, na loja em que gravo as fotos num CD, já que havia fotografado de tudo, duas mães, olhando as fotos, tecem comentários sobre a festa. As crianças estavam lindas, dançaram bem. Foram espontâneas. Tudo foi um sucesso. "Eu só não achei muito certo a professora ter feito os casais separando as mais clarinhas das escurinhas..."

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos não é só mais uma atração turística.

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)