segunda-feira, junho 19, 2006

Cenas de Junho: O Passeio

Ela disse a ele que queria passear. E então eles passearam, mesmo sem ir muito longe. Ela viu as águas do lago, e ele viu também o lago de outro ângulo. Tão diferente! O céu azul quase entorpecia, e o verde das montanhas contrastava com as pequenas flores cor-de-rosa. Até respirar lhes era diferente. A cidade, tão ela mesma, mostrava-se outra. Ou eles haviam mudado? Ela arrancou a delicada flor da árvore, e percebeu que era mais resistente do que imaginava, e que não era tão perfumada quanto desejava. Ainda assim, guardou no bolso o pequenino ramo que foi murchando, murchando... Guardou a prova de uma cidade, tão ela mesma, por momentos diferentes. Guardou a prova dos momentos em que a vida lhe era, de certa forma, incomum, apesar de nada haver de novo. Guardou pra sempre aquele cheiro que lhe provara toda a surpresa dos detalhes insuspeitados e silenciosos...

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)