domingo, outubro 08, 2006

Das imperfeições

Dos terríveis vazios que constroem minha vida, construo-me. Se eu sei do que sou? Sei do que não sou. Sei de minhas faltas e ausências e carências e defeitos. Sei do que ficou faltando. Sei do que ainda não está bom. Sei do que nunca será bom. Sei de minhas faltas, sei de minhas ausências, sei de meus tensos silêncios. Sei das minhas intermitências, sei das minhas inconstâncias. Sei que nem sempre sei de tudo isso. Sei de minhas imperfeições, e isso basta.

Sei de meus plenos vazios, de minhas acertadas faltas, sei de meus estudados defeitos. Sei de mais alguma coisa? De mais nada.

No entanto, se fosse perfeita, seria mais banal. É que a humanidade dá a todos os seres qualquer coisa de inatingível em sua concreta composição. Inatingivelmente concretos. E os defeitos me compõem. E minhas falhas me descrevem. E minhas faltas e silêncios e inconstâncias e imperfeições são o que chamo de: eu.

Sou isso. (Im)perfeitamente (in)tangível. Sou isso. Grito no escuro, dança em silêncio, tropeço no caminho.

Entre vazios, faltas defeitos, descrevo-me. Encontro-me. Sinto-me. Existo.

E, já que não é mesmo necessário, deixo de fazer sentido. Sem explicação. Sem causa, razão, motivo. Assim: sendo.

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)