quinta-feira, outubro 05, 2006

O noturno silêncio

Noturnamente, eu me ajoelhei ao lado dos teus cabelos.
Bastos cabelos, anelados cabelos, silenciosos.
Noturnamente, eu silenciei, também, sôfrega,
o alarido do meu interior em festa e calor.
Noturnamente, sem que qualquer ser percebesse
- dedo de enfermeira, lábios trancados -,
eu me vi deslizando para dentro de nós,
perdendo-me, tangível.
Noturnamente, e eu respirava sentindo
o perfume o calor o arrepio o susto o riso
daquela noite tua e minha,
daquela noite em que eu,
noturnamente, calei-me gritando.

E fez-se o dia.

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)