terça-feira, setembro 19, 2006

Eu bem que avisei

As pontas dos dedos tocam a pele das teclas, imprimem força, mas o que escrevo não chega a fazer sentido. Recortes de tantas coisas por que passei. Pedaços de tantas coisas que sequer pensei. As palavras soltas, frases desconexas. A tentativa de se tornar compreensível - isso existe?

Às vezes basta brincar. O tlec tlec das teclas preenchendo o silêncio do quarto escuro às vezes é um alento. Como se, vez ou outra, precisasse disso para me sentir mais viva. Como se necessitasse disso para fazer sentido - e isso existe?

Lembro-me de trechos de músicas, releio antigos poemas, vejo as cores dos quadros da semana. Tanto a ser dito, tanto a ser falado, tanto a ser sentido, ainda que sem sentido algum. Pura brincadeira. Exercício. Brin-ca-dei-ra. Um quebra-cabeça, milhares de peças, mas alguma imagem a ser vista? Talvez. Talvez não.

Brin-ca-dei-ra.

É nisso que dá a boa vontade de ler o blog de alguém (o meu, por exemplo): esbarra-se, a todo momento, nas excentricidades alheias.

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)