sexta-feira, agosto 25, 2006

Mural

É que peguei um livro da Hilda Hilst, e estou lendo com atenção. Sentindo.

Por isso, cito, porque repetir me faz sentir mais intensamente. Como se repetisse, em voz alta. Não é propriamente para entender. É tocá-lo, sorvê-lo, cheirá-lo. Senti-lo inteiro, e sentir-me, também...

DA NOITE

VIII

Costuro o infinito sobre o peito.
E no entanto sou água fugidia e amarga.
E sou crível e antiga como aquilo que vês:
Pedras, frontões no Todo inamovível.
Terrena, me adivinho montanha algumas vezes.
Recente, inumana, inexprimível
Costuro o infinito sobre o peito
Como aqueles que amam.

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VIA ESPESSA

XII

Temendo deste agosto o fogo e o vento
Caminho junto às cercas, cuidadosa
Na tarde de queimadas, tarde cega.
Há um velho mourão enegrecido de queimadas antigas.
E ali reencontro o louco:
- Temendo os teus limites, Samsara esvaecida?
Por que não deixas o fogo onividente
Lamber o corpo e a escrita? E por que não arder
Casando o Onisciente à tua vida?

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)