quinta-feira, agosto 17, 2006

Agora não

Minha vida está sempre esperando pelo dia seguinte. É o amanhã, é o depois de amanhã. É o daqui a pouco, é o quando der. O agora não tem vez. O agora quase não se percebe, mas dói. Vivo suspensa.

Está um pouco mais frio hoje. Desceu alguma neblina, vinda dos lados da estrada. O ar ainda está pesado, mas a chuva já se anuncia. Não sei se pra hoje. Não sei se pra amanhã. Mas ela vem. Provavelmente, no meu aniversário, que é um dia, quase sem exceção, de chuva. Dia de chuva e frio. E é o que a previsão do tempo anuncia pra próxima segunda-feira.

Agora não chove. Espero pela chuva, espero por qualquer coisa que torne o ar mais leve e lave a poeira das ruas e faça com que me sinta melhor e me deixe menos ansiosa. Espero por qualquer coisa que só acontecerá no dia seguinte, ou no outro. Ou no outro, ainda. Mês que vem. No verão. Em 2009.

Por enquanto, um silêncio forçado. A palavra não é dita, mas eu chego a entreabrir os lábios. Por enquanto, o céu está acinzentado e algum sabiá faz festa para além das casas todas. Posso ouvir o sacudir das penas.

A poeira das ruas me deixa embaçada. E eu não sei quando tudo mudará. Eu não sei se tudo mudará. Ou se a poeira já se instalou em meus olhos, acompanhando-me. Tudo é baço. Tudo pesa. Tudo espera, suspenso. Inclusive eu.

A neblina veio cinzenta, diferente. Quase uma fumaça, como a do incêndio na beira da estrada. Mas não chove. Quem sabe, amanhã. Ou no dia seguinte.

1 Comments:

At 5:44 PM, Anonymous Anônimo said...

levei algum tempo pra entender que não dá pra viver esperando o amanhã.

exatamente por essa sensação de suspense. esse coisa que fica a flutuar e não deixa que a gente faça o que tem pra fazer agora.

também adoro o Pessoa.

beijoooooooooooo

 

Postar um comentário

<< Home

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)