quarta-feira, agosto 09, 2006

Mural

É porque aqui também é lugar de escrever - ou transcrever, é melhor - textos de que gostamos. No caso, pra variar, um pedaço de uma carta da Clarice pra irmã, Tania. Bonito, bonito.

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Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Não sei como lhe explicar, querida irmã, minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. Depois que uma pessoa perder o respeito de si mesma e o respeito de suas próprias necessidades - depois disso fica-se um pouco um trapo. (...) Mas não pude deixar de querer lhe mostrar o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Minha irmãzinha, ouça meu conselho, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você - pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver.

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Chega até a doer.

1 Comments:

At 2:21 AM, Blogger r a c h e l said...

eu tenho esse livro também 'correspondências', é bárbaro.
precisamos trocar umas idéias...
você, por acaso, também foi aluna do querido mestre bibiano que te enfeitiçou com clarice, foi?

 

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"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)