segunda-feira, novembro 10, 2008

Do mural à tese sem que eu tenha percebido

Procurei, mas não encontrei. É de Roteiro do silêncio, Hilda Hilst, em 1959. O trecho eu peguei em um artigo no volume a ela dedicado dos Cadernos de literatura brasileira.

Não há silêncio bastante
para o meu silêncio
Nas prisões e nos conventos
Nas igrejas e na noite
Não há silêncio bastante
Para o meu silêncio.
(...)
O não dizer é o que inflama.
E a boca sem movimento
É o que torna o pensamento
Lume
Cardume
Chama

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Ando lendo um pouco mais Hilda Hilst, e descubro da poesia mais densa e legítima. Às vezes encontro daquelas coisas que gostaria de ter escrito (gostar não é, evidentemente, ter possibilidade de). Mas leio, e quem sabe não sai alguma coisa disso tudo.

Até porque o contexto era outro. Entrando um pouquinho na aula, o trechinho do poema é bem representativo dessa época complicada por que passou o mundo:

Seguindo os rastros dessa caminhada, destacamos, em sua poesia primeira, a presença do "silêncio" que se impunha aos poetas nos anos 50 (período da Guerra Fria, quando parecia que já não havia mais nada a dizer ou que nada mais importava). O que não significa que se calaram. Na verdade, de mil modos, falaram sobre o não-falar ou sobre a inutilidade da fala.

Isso está no volume dos Cadernos. A autora é Nelly Novaes Coelho - escapo do plágio, mas não vou ser chata a ponto de colocar referência bibliográfica (lembrar-me de escrever a tese em outra hora e em outro lugar).

A propósito, a tese nada tem a ver com Hilda Hilst. Pelo menos, não que eu saiba. Essas coisas têm suas esquisitices, e às vezes nos levam aonde não planejamos ir.

E, já que inspiração não vem, escrevo qualquer coisa de um livro que comecei a ler hoje. Aí vai um trechinho interessante:

(...) é um pacto de mão dupla: o escritor se faz ouvir e o leitor lhe dá ouvidos - ou, mais precisamente, o escritor trabalha para criar ou encontrar uma voz que irá alcançar o leitor, fazendo-o apurar ouvidos e prestar atenção.

É de A voz do escritor, de A. Alvarez. Sem referência bibliográfica.

Lembrar-me de tentar escrever a tese.

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)