sexta-feira, maio 30, 2008

O nadador

Era a primeira vez que o nadador do interior estava em frente ao mar. Tão diferente das piscinas, tão vasto e profundo. E infinito. Além, só a costa africana. Fitava o horizonte como se pudesse lá encontrar um destino. Além, muito além, mais além do que o longínquo das histórias que ouvia na infância. Além, mais além. O oceano se oferecia em tons de verdes-azuis, o som das ondas chamando-o, chamando-o. Areia firme, o sal que a pele sentia com o correr do vento. Era tão bom, ele pensava, ou só sentia, e só sentir já era o suficiente. Uma imensa linha – reta? – à frente, uma linha reta inatingível – sempre além, sempre mais além. Sem chegadas. O horizonte, imóvel, o desafiava – mas seus braços eram fortes, e venceriam os infindáveis quilômetros. Braços fortes, ele sabia. Rompeu a superfície plana do mar tão calmo e foi além – para lá encontrar seu destino.

2 Comments:

At 11:05 PM, Blogger r a c h e l said...

Lindo post, queridona. Essa metáfora "... como se pudesse lá encontrar um destino" já valeu tua ausência.

Beijo grandão!

 
At 12:22 PM, Blogger Leonardo Barros said...

Lindo!
Fe-me lembrar de uma ocasião na praia em que um senhor de uns 60 anos, acho que era de Minas, viu o mar pela primeira vez. Seus olhos azuis choraravam deslumbrados com tanto mar. E foi-se ao mar!

 

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"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)