sábado, julho 01, 2006

O dia de hoje, por mim

Sem nada pra fazer, fiquei procurando coisas interessantes no computador. Nada é interessante, e o dia vai passando numa lentidão que não é usual.

Parece que o dia de hoje é o de Plutão. Dizer que os minutos levam horas para passar não é nada criativo, mas é a verdade. Olham-se os ponteiros do relógio, e eles se movem numa preguiça de domingo à noite. E ainda é sábado.

Ainda é sábado e eu estou sozinha. O sábado é barulhento, mas as únicas coisas que quebram o silêncio são as músicas tristes e meus dedos no teclado. Por que, quando se está triste, só músicas tristes tocam nas rádios? Se fosse carnaval, haveria jeito para toda tristeza. Mas já é julho, é inverno e faz frio. Faz frio e eu sopro uma fumaça branca na tela do computador, embaçando-a. Calço as luvas, e é com elas que faço nítida, novamente, a tela.

Ainda dá tempo de desembaçar tudo o que ficou enevoado nos outros dias? Ainda posso fazer tudo nítido, novamente? Por enquanto, meus olhos queimam, e o telefone não toca. Por enquanto, as nuvens cinza pesam sobre mim, fazendo-me encolher ainda mais. Há dias em que estamos expansivas, querendo todo o espaço. Há outros em que se pensa em diminuir, diminuir... E a tentação é grande... A questão, como já disseram, é saber agüentar.

Se tentar chamar a mim mesma, conseguirei responder? Acho que nem eu estou comigo... É a mais dura das solidões - a solidão que não se sabe quando termina.

Se ainda fumasse, se ainda bebesse... Mas não há distração possível. Meu pequeno primo está num dia enjoadinho, só quer a mãe. Por enquanto, estou sozinha. Por enquanto, torcidas inflamadas aguardam ansiosamente o início do jogo de futebol. E eu, melancólica. Saudosa, acho que saudosa do que nunca tive.

O jeito é tentar espantar a tristeza de qualquer forma, porque é difícil viver triste e com os olhos em constante inundação, ainda que seja por nada. É, não falta muito para o jogo começar, e enquanto a bola estiver rolando nada mais fará diferença. Mas o por enquanto do jogo dura noventa minutos... E o meu por enquanto, quanto dura?

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)