sexta-feira, junho 30, 2006

Reinventando, e justificando

Já estava na hora de falar sobre Cecília neste blog. Ou, ao menos, dizer (caso alguém ainda não tenha percebido) que o título e parte da idéia dele vêm de um poema seu.

REINVENÇÃO

A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas

e passeia a mão dourada

pelas águas, pelas folhas...

Ah! tudo bolhas

que vêm de fundas piscinas

de ilusionismo... - mais nada.


Mas a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira

as algemas dos meus braços.

Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.

Tudo mentira! Mentira

da lua, na noite escura
.

Não te encontro, não te alcanço...
Só - no tempo equilibrada,

Desprendo-me do balanço

que além do tempo me leva.


Só - na treva,

fico: recebida e dada.


Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

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É por aí. Reinventar. É para isso que nos servem as palavras, é para isso que serve a escrita, é para isso que serve esse mísero blog - e também o mísero papel de tempos atrás.

Reinventar: essa é a ordem. Tudo é mais - ou menos, também - perfeito a partir da reinvenção. Outra realidade se encontra aqui. E ela não corresponde, necessariamente, ao que se vê lá fora. Ela não corresponde, necessariamente, a mim.

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Se não há nada de interessante no que escrevi a respeito da escrita, e também a respeito de mim, ao menos há o poema da Cecília. E ele já vale - e muito! - por essa postagem.

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)