quarta-feira, novembro 08, 2006

Mural

Acho que é a primeira vez que cito Adélia Prado neste blog. Em tempos de pouca e parca inspiração, resta-me citar. E cito um dos bons:

GÊNERO

Desde um tempo antigo até hoje,
quando um homem segura minha mão,
saltam duas lembranças guarnecendo
a secreta alegria do meu sangue:
a bacia da mulher é mais larga que a do homem,
em função da maternidade.
O Osvaldo Bonitão está pulando o muro de dona Gleides.
A primeira, eu tirei de um livro de anatomia,
a segunda, de um cochilo de Maria Vilma.
Oh! por tão pouco incendiava-me?
Eu sou feita de palha,
mulher que os gregos desprezariam?
Eu sou de barro e oca.
Eu sou barroca.

**********

Na verdade, esse poema tem algo em comum com um texto - ou um pedaço dele - que está há tempos na minha cabeça, mas eu, indolente, deixo-o sempre para depois. Talvez sirva como um incentivo. Vontade de escrever, vontade de falar. Palavras. Palavrório, talvez. De toda forma, promessa de texto novo. E meu - o que não é garantia alguma de que será bom!

2 Comments:

At 4:11 PM, Anonymous Anônimo said...

pode não ser garantia de que será bom mas será seu o autor é ao mesmo tempo o pior crítico de sua obra e o único em condição de cria-la, portanto o pior crítico de si mesmo é o melhor escritor de si mesmo...

 
At 5:44 PM, Blogger Angélica Castilho said...

Me elmbrou um poema do M. Bandeira - coloquei no meu scrap hoje! - que fala da ternura pelos poemas não escritos. Beijo!

 

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"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)