sexta-feira, janeiro 19, 2007

Mural

Encontrei! E não precisei procurar muito; o papel estava à minha espera, em uma de minhas gavetas mais bagunçadas. Agora transcrevo o poema que me atormentava e, de quebra, um outro também do Gilberto Mendonça Teles (só não esperem corretas referências bibliográficas):

Reténs nos teus cabelos mil convites
que a noite amadurece nas violentas
canções do amanhecer. Ruidosa e triste,
propagas a unidade em que te ausentas
consentida de mágoa e seus limites
de fogo e permanência. Em vão inventas
a solidão compacta que te agride
no teu poder de súplicas e lendas.
E nada te convence de que és grito
de carne e contingência, puro acerto
ou desacerto, tempo repetido
no afã de se encontrar ou se perder
no desespero e no deslumbramento
da rosa que se dá, inteira, ao vento.

DISTÂNCIA

Sei que entre nós paira um silêncio torto
e existe um mar inútil de amargura,
por onde sigo demandando o porto
da minha eterna solidão futura.
Algas te levo. E flores do meu horto
Teci da aurora o risco da aventura
Pus carícia de lã para o conforto
do amor que te perdeu e te procura.
E que, para te achar, circunavega
não só o mundo, mas o desespero
de retinas que o sal do tempo cega.
E que é um som efêmero que a vida
traçou no meu caminho derradeiro
como uma sombra nágua refletida.

1 Comments:

At 1:10 PM, Blogger r a c h e l said...

lindos, lindos, lindos. farei como o ricardo. esses são poemas para usar. :*)
beijoca,
(como foi a praia?)

 

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"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)