quinta-feira, dezembro 28, 2006

Da brandura da tempestade

Ontem fiquei à espera da tempestade que se anunciou no começo da tarde. O delicioso tédio dos dias entre o Natal e o Ano Novo encheu-me o peito, e a sensação só aumentou à medida que chegavam as nuvens escuras e carregadas. Eu via a transformação, como elas se moldavam, como elas se mudavam, se fundiam, como seus limites se esvaíam em chuva ao longe. A cortina dos pingos distantes formando listras verticais atrás das montanhas que sumiam de uma hora para a outra. Chuva pesada - chegou-me o cheiro às narinas. O vento se intensificava, e os raios começaram a cair. Eu ouvia as trovoadas, deliciando-me com toda aquela violência que chegava com as lufadas frescas e perfumadas de terra molhada. O céu pesava sobre a terra, e eu esperava ansiosa o romper dos traços que separavam a água do chão. Primeiro, o cheiro; logo chegou o barulho, sem que visse pingo algum. Começou a chover, enfim: gotas grossas, espaçadas e barulhentas que dançavam nas telhas e flores. Apertava a chuva, expandia-se o peito: respirava largo o ar leve, fresco e perfumado de tarde de verão. A tempestade lá fora se fez branda calmaria dentro de mim.

2 Comments:

At 11:10 AM, Anonymous Anônimo said...

Nossa como um pequeno tema pode ser destrinchado pala sua intelingência. Vou aprender a ser assim!
beijos

 
At 7:48 AM, Blogger Angélica Castilho said...

CARA, TAMBÉM SINTO UM TÉDIO INFINDO ENTRE ESSES DIAS.

 

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"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)