domingo, dezembro 10, 2006

Zona de convergência do Atlântico Sul

Só faz chover nesta minha terra. É quase metade de dezembro - quase verão! -, e eu de casaco no domingo. A neblina que não se cansa de baixar sobre meus cabelos, o branco que penetra os cômodos e os pulmões. Silêncio. Onde estão os cheiros do Natal, as cores do verão? Teremos um White Christmas. Se não há neve, há garoa. Branco. Silêncio.

É a tal zona de convergência do Atlântico Sul. Há poucos anos as explicações para o mau tempo em Petrópolis se baseavam nas freqüentes frentes frias - que, certamente, vinham de São Paulo sem escala no Rio, parando aqui na serra. Agora vem essa tal zona. Nem se ouve mais falar em El Niño. Só há essa tal zona. Tudo convergindo sobre nossas cabeças e, sobretudo, sobre as cabeças dos petropolitanos, sobretudo os que moram à beira da serra, como eu.

Hoje eu pude tocar as nuvens, rompê-las, receosa. Dirigia à noite, em uma das mais terríveis cerrações de minha vida. Pouco se via - eu tateava ao volante. Culpa de quê? Da zona de convergência do Atlântico Sul.

Se há crise econômica, se há problemas na política... Pouco me importa. O que eu não agüento mais é essa tal zona de convergência do Atlântico Sul, que faz tudo ficar branco, quieto - "silencioso e branco como a bruma", não pude deixar de lembrar.

Quero o calor, quero o sol, novamente. Quero vontade de sorvete às três da tarde. Quero barulho de ventilador, quero ar condicionado indispensável ao pôr-do-sol distante. Quero guardar os cobertores no armário, definitivamente, até março ou abril.

El Niño era mais simpático. Além dessa zona ter nome comprido, não é personificada - e nem tem nome em espanhol, para que possamos associar, imediatamente, aos argentinos que sopram pra cá o ar polar. Ninguém agüenta mais. Não se concebe um dezembro, no Brasil, branco como este. Ainda que seja em Petrópolis.

E as férias que ainda não chegaram - e parece que não chegarão. Quero praia em janeiro. Quero cheiro de protetor solar. Quero cabelos ressecados ao sol.

Mas, para isso, é preciso que haja alguma divergência... Não sei do quê, exatamente, mas que nada mais convirja para cá!

1 Comments:

At 7:02 PM, Blogger r a c h e l said...

ah, aqui em petrô tem uma rede montanhosa de pega-nuvem, sabia não? o nome do prefeito 'bom tempo' (rs) foi só pra ganhar as eleições... rsrsrs.

 

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"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)