sábado, dezembro 23, 2006

Um post natalino

Antevéspera de Natal: precisamos de alguma referência à data, não? Pois bem; vamos a ela.

Minha irmã considerou hoje, muito propriamente, que a vida profissional de um Papai Noel é muito semelhante à de uma garota de programa, ao menos em nossas lembranças de infância (as lembranças de infância, é bom dizer, são do Papai Noel!). Explico-me: na noite de 24 de dezembro, havia alguns Papais Noéis (perdão pelo plural feioso) vagando pelas ruas do bairro, à espera de qualquer carro que parasse e perguntasse se ele estava livre para visitar alguma casa. Claro, combinavam-se preço e tempo, dois fatores interligados. E pelas ruas andavam vários homens vestidos de vermelho, de gorro na cabeça, suando debaixo das roupas invariavelmente surradas. Como não era nenhuma super-produção, nenhum deles usava enchimento para ficar mais fofinho, como um bom Papai Noel. O que acontecia é que muitos deles já traziam a barriga acoplada, muitas vezes a conhecidíssima barriga de chopp.

Diz minha irmã, também, que ela se lembra vagamente de uma ocasião em que foi contratado um Papai Noel que chegou bêbado à casa de nossa avó, onde acontece, até hoje, a distribuição de presentes. Não me lembro de tal incidente, mas não duvido, em absoluto - consigo imaginar a cena!

Hoje, eu já quase trintona, tenho apenas dois primos pequenos que passarão pela experiência da espera do presente de Natal. Na verdade, um apenas - o mais novo tem só oito meses, nem dará pela situação. O mais velho, de um ano e quase onze meses, morre de medo do Papai Noel: se vê qualquer imagem dele, solta um "ho ho ho", e emenda, imediatamente, um "ai ai ai", com uma cara de desespero... Ao menos não fizemos com ele a tortura da colherzinha no copo, por que já passaram vários primos mais novos. Havia bagunça? Blasfemava-se contra Santa Claus? Imediatamente se simulava o sininho do Papai Noel que o moleque ajoelhava debaixo da mesa e prometia nunca mais pronunciar palavra alguma que pusesse em dúvida a reputação de tão amável velhinho. Nunca mais ele o chamaria por todos os nomes de cachorros existentes nas redondezas.

Não sei se meu tio contratará um Papai Noel de programa amanhã. Acho que não, ou o pobre do meu primo ficará sem cordas vocais de tanto gritar de pavor. Há muito tempo, na verdade, não vejo um Papai Noel recebendo real atenção de crianças. Passei ontem por um, em um shopping da cidade, que estava sentado em sua poltrona, entediado, balançando o sininho impacientemente, enquanto as crianças olhavam as vitrines e nem davam pelo amado e temido velhinho enfiado naquela roupa escaldante. Ele mesmo já chupava as balas que deveria distribuir às crianças - quando muito, dividia-as com as cabeleireiras que desciam do salão de beleza do segundo andar para fumar. Aí, sim, Papai Noel se animava.

Espero, portanto, pela noite de amanhã, em que se distribuirão os presentes e verei se meu priminho vai gostar mais dos brinquedos que vai ganhar ou se do papel que os embala... Acho que já sei qual é a alternativa correta!

P.S.: Sugiro, a todos, que assistam ao filme "Papai Noel às avessas". Mais politicamente incorreto, impossível!

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)