sexta-feira, janeiro 05, 2007

Despertar

Foi um dia intenso. Apesar disso, o que dele ficou? Impressões, talvez. Arco-íris desmaiado no céu de nuvens. Vento incessante. Uma música que me deu taquicardia - ou um calor inesperado dentro do peito. Eu chorei. Eu ri. Pensei no futuro. Senti perfumes.

Foi o primeiro dia de 2007 em que o sol apareceu, e só depois das seis da tarde. As árvores se coloriram e ganharam o verde já esquecido por todos. Privei-me dos óculos escuros.

Abracei e beijei quem não conhecia, sem medo algum. Chorei por ser tão nada num mundo em que já me fascinam, tão baixas, as minhas montanhas: meu mundo, meu limite.

Há a tristeza das bocas sem dentes que choram pelos filhos sozinhos. Há a barriga que é carga: peso, despesa pra quem não pode. Há a anunciação de mais uma menina que chegará ao mundo. Há a música que toca alto no rádio do carro. Há o raio inesperado do sol, há o céu que surpreendentemente se revela entre as nuvens baixas em azul brilhante. Há um arco-íris que foge atrás da torre da catedral.

Há o choro. De tristeza? De alegria? Desespero, realização? Há o choro. Há a vida. Há o choro de vida.

2 Comments:

At 7:46 AM, Blogger Angélica Castilho said...

LINDO! LINDO! LINDO!

 
At 3:56 PM, Anonymous Anônimo said...

Mas o que é, afinal, "não poder"?
Lindo texto!

 

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"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)