quinta-feira, abril 26, 2007

Platonismo pós-moderno

Se eu toco, é real.
Se não, o que é?
Fantasia, abstração?
Desenho, esboço, borrão?
Sinto cheiros que não há.
Provo os novos antigos sabores.
Invento-nos palavras arcaicas,
modernizando-lhes a dicção.
Sou real, contemporânea:
em mim corre o mais atual sangue
da mulher desde o princípio -
mito fêmea lenda bicho
alma corpo pele rito
riso choro: grito.
Se queimo minissaias ou visto espartilhos,
pouco importa. Há o sangue. Há o som das
promessas e sonhos e sagas felizes.
Há os dias, há anos.
Ainda que me digam que não.
Ainda que me encarem e me olhem
e me chorem o choro que nem eu mesma quis.
Ainda que me digam que o amor
- este desconhecido -
só existe para mim.
Em qualquer outra irrealidade, lá está ele.
Que me importa se são minhas as suas palavras?
Elas existem. Eu existo. E me basto.

2 Comments:

At 3:27 PM, Blogger Bia said...

Mesmo que não queira, que nem se importe: eu li. [risos] E gostei.
Pode ter certeza, vou voltar.
Bom fim de sexta-chata-cinza-chuvosa - coisas boas podem acontecer num tempinho assim!
;o)

 
At 7:22 PM, Anonymous Anônimo said...

Que poema bonito!
Impossível não comentar o óbvio, o previsível, este seu talento!...

Fabio

 

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"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)