Despertar
Foi um dia intenso. Apesar disso, o que dele ficou? Impressões, talvez. Arco-íris desmaiado no céu de nuvens. Vento incessante. Uma música que me deu taquicardia - ou um calor inesperado dentro do peito. Eu chorei. Eu ri. Pensei no futuro. Senti perfumes.Foi o primeiro dia de 2007 em que o sol apareceu, e só depois das seis da tarde. As árvores se coloriram e ganharam o verde já esquecido por todos. Privei-me dos óculos escuros.
Abracei e beijei quem não conhecia, sem medo algum. Chorei por ser tão nada num mundo em que já me fascinam, tão baixas, as minhas montanhas: meu mundo, meu limite.
Há a tristeza das bocas sem dentes que choram pelos filhos sozinhos. Há a barriga que é carga: peso, despesa pra quem não pode. Há a anunciação de mais uma menina que chegará ao mundo. Há a música que toca alto no rádio do carro. Há o raio inesperado do sol, há o céu que surpreendentemente se revela entre as nuvens baixas em azul brilhante. Há um arco-íris que foge atrás da torre da catedral.
Há o choro. De tristeza? De alegria? Desespero, realização? Há o choro. Há a vida. Há o choro de vida.
2 Comments:
LINDO! LINDO! LINDO!
Mas o que é, afinal, "não poder"?
Lindo texto!
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