segunda-feira, abril 30, 2007

Sturm und drang

Porque chovia muito, Anabela ficou em casa. Olhando o céu que desabava convulso sobre os morros e casas, viu que não havia muito a fazer. Fechou os olhos a contragosto, e dormiu, e sonhou. Acordou: fazia-se a noite. Sem estrelas ou luar, mas noite. Um avião lá longe parecia não se mover no céu. Anabela bocejou apressada, tanta coisa deixada para trás. Tanta coisa sem ser dita, só por causa da chuva. Tanta coisa que deixou de escorrer terra abaixo, lavando toda a capa de gentileza que seus olhos cansados carregavam. Anabela não conseguiu chorar. Deixaria para o dia seguinte, adiando-se mais uma vez. E, além daquela rua, o mundo rodopiava silencioso, sem chuva ou choro, já seco e quase brilhante, fazendo com que todos acreditassem que estariam a salvo pelo resto dos tempos. Mas Anabela ainda tinha sua voz e seu grito, e o telefone - para ele caminhou, rápida e assustada de si mesma. Um relâmpago luziu ao longe no céu de nuvens opacas e vazias.

3 Comments:

At 9:15 AM, Blogger caeiro said...

que texto bacana... e além da chuva que ela via existia possibilidade de conforto foi massa.

 
At 10:59 AM, Blogger r a c h e l said...

adiando-se foi lindo. amei!

 
At 10:04 PM, Blogger Unknown said...

Amiguinha, você anda escrevendo muito sobre frio, chuva e gargantas secas... rs
Mas eu estou gostando dos textos :)
Bjos!!

 

Postar um comentário

<< Home

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)