segunda-feira, junho 09, 2008

Dois minutos de análise ou If I were a character

Tenho uma certa fidelidade às coisas. Mesmo número do celular desde sempre - sequer cogito trocar de operadora só por apego aos dígitos, e olha que isso me faz deixar de considerar alguma economia. Peço sempre a promoção número 4 no McDonald´s. Sempre coca-light (apesar de não notar grande diferença, evito a coca zero). Sempre caipivodka de morango, quando é hora de caipivodka de morango. Pizza ou de lombinho canadense com alho-poró ou margarita (assim eu descobri que sou vidrada em manjericão). Vou sempre aos mesmos lugares. Costumo comprar nas mesmas lojas. Sempre tenho que prestar dupla atenção para não pegar o caminho do Fundão quando vou ao Rio e desço pela Vermelha em direção à Zona Sul. Ouço, claro, sempre os mesmos CD´s. Deixei uma conta de e-mail antiga com algum sofrimento, e ainda me pergunto se posso recuperá-la. De uns tempos pra cá, só tomo sorvete de pistache. Não penso em trocar de banco. Sempre lírios cor-de-rosa no vaso sobre a mesa da sala de jantar.

Não, eu não sou muito chegada a mudanças. E também tenho dificuldade para me desfazer das coisas. Fiquei no mesmo bairro depois de casada. Não quero mudar de cidade e simplesmente não concebo a idéia de mudar de Estado. Sou incapaz de me desfazer de minhas agendas antigas, e isso me remete ao início da década de 90. Guardo centenas de e-mails. Isso sem falar nas centenas de faturas de cartão de crédito espalhadas pelas gavetas.

Sinto muitas saudades. De tudo. De bobagens. Tenho sempre a melancolia do momento perdido. E a certeza de que o momento de agora também não durará muito. Então eu me apego.

Não acho que esteja certa. Mas também não acho que esteja errada. Até gosto da minha previsibilidade. Talvez tente compor um esboço de retrato meu.

Mas mudo, também. De humor, sobretudo. Para mim, não há tristeza pouca. A ínfima bobagem pode me levar à terrível angústia: basta começar a chorar. Quando choro, choro por tudo - tenho inveja de quem consegue chorar discretamente, enxugar os olhos e continuar. Eu, não. Eu me dilacero.

Tento, às vezes, me entender. E percebo que não entendo o porquê de ter escrito tudo isso. Peço desculpas pelas idéias desconexas, e também pelo tom egocêntrico. Alguém dirá que é necessidade de análise. Outra pessoa pensará que há alguma vaidade. Eu nem sei o que dizer. Talvez, apenas que é bom, de vez em quando, olhar-se de fora e tentar enxergar-se como alguém outro, tão estranho a si mesmo. E, quem sabe, transformar-se um pouco em personagem.

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)