sexta-feira, outubro 29, 2010

Joie de vivre

Passeava pelas calçadas, fechando os olhos ao inspirar. A cadência de seus passos fazia balançarem seus cabelos longos, mas ela começava a sentir a nuca que suava, e suas faces iam pouco a pouco tornando-se rubras. As copas das árvores, unidas, colocavam-na em suave penumbra em pleno meio-dia, mas os raios de sol que escorregavam até ela tornavam-na instantaneamente brilhante, quente, úmida.

Não pensava em nada. Não havia pensar - só sentir. Os passos na calçada. A cada lufada de ar, os pulmões se enchendo e se esvaziando. A cabeça pendeu para trás, as hastes das flores às margens do rio curvavam-se à leve brisa.

Era tão bom. Era tão simples: bastava respirar, e todo o resto desaparecia. Ou só apareciam os cheiros, as formas, as cores das fohas das árvores que ficavam cor-de-rosa-maravilha ao fim de outubro.

Era tão bom, era tão simples: sem problemas, ou - que existissem! O sol era mais forte. Também o céu. Também o ar. E o cheiro do mato crescendo aos poucos sem pressa, descompromissadamente. Era ela. Ela era. Tão simples.

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)