sexta-feira, maio 30, 2008

O nadador

Era a primeira vez que o nadador do interior estava em frente ao mar. Tão diferente das piscinas, tão vasto e profundo. E infinito. Além, só a costa africana. Fitava o horizonte como se pudesse lá encontrar um destino. Além, muito além, mais além do que o longínquo das histórias que ouvia na infância. Além, mais além. O oceano se oferecia em tons de verdes-azuis, o som das ondas chamando-o, chamando-o. Areia firme, o sal que a pele sentia com o correr do vento. Era tão bom, ele pensava, ou só sentia, e só sentir já era o suficiente. Uma imensa linha – reta? – à frente, uma linha reta inatingível – sempre além, sempre mais além. Sem chegadas. O horizonte, imóvel, o desafiava – mas seus braços eram fortes, e venceriam os infindáveis quilômetros. Braços fortes, ele sabia. Rompeu a superfície plana do mar tão calmo e foi além – para lá encontrar seu destino.

"A linguagem é uma pele: fricciono minha linguagem contra o outro. Como se eu tivesse palavras à guisa de dedos, ou dedos na ponta de minhas palavras." (Roland Barthes)